terça-feira, abril 06, 2010

Bicho raro

Devo ser uma pessoa muito ‘rara’, como dizem os argentinos. Seja pelos meus atos, ou por minhas convicções e interpretações do mundo, quase sempre sou contrária ao que a maioria pensa sobre determinado assunto. E, acreditem, eu faço um esforço tremendo para poder entender o lado do outro, principalmente para julgar as minhas percepções e/ou tornar a minha argumentação mais convincente.
Hoje, por casualidade, ouvi um programa de rádio de São Gabriel onde a locutora colocou em pauta a indisciplina escolar e a desvalorização e ‘desmoralização’ da figura do professor, citando o exemplo de uma diretora que teria sofrido agressões na escola onde trabalha. Achei interessante no início, afinal, a instituição escolar deve ser de interesse de toda comunidade. É pertinente que se debata a questão educacional, assim como é imprescindível olhar a questão sob uma ótica ampla, analisando os problemas existentes nas escolas não os separando dos problemas existentes na sociedade como um todo. Principalmente, quando a pauta é sobre indisciplina.
Basta ‘echar un vistazo’ aos órgãos de comunicação, ou fazer uma visitinha na escola mais próxima, e registros de indisciplina não serão difíceis de ser encontrados. Desde os mais simples, tarefas não feitas, ‘conversas paralelas’ (minhas professoras adoravam a expressão), até os mais graves como brigas e agressões físicas. O que me pergunto é se essa realidade tem sua culpa apenas na escola ou possui raízes mais profundas; se a solução se daria apenas com mudanças no âmbito escolar e se com isso conseguiríamos curar a sociedade doente em que vivemos.
Confesso que o que me incomodou na fala da locutora foi ao final ter citado a conversa que teve com um pai de uma aluna ingressante ao Colégio Tiradentes de SG. Para quem não sabe, o Tiradentes é de responsabilidade da Brigada Militar, ou seja, tem um regime diferente das outras escolas públicas. Nessa conversa o pai se dizia feliz por a filha ter recebido uma ‘punição’ por não ter ido de trança, petenado comum a todas as alunas, à aula.
Numa tentativa clara de associar o fato das rígidas regras da escola militar com a indisciplina presente nas demais escolas, a comunicadora citou simplestemente um “fica a história para ser pensada”. E aí eu gelei. Fica a história para ser pensada. Mas o que pensar? Duvido muito que a maioria tenha chegado a mesma conclusão que eu, de que mais uma vez e mais uma pessoa esteja instigando o pensamento de que a disciplina, o respeito e o cumprimento de regras deva ser ensinado na escola. Ao mesmo tempo me questionei sobre o papel do pai ou responsável na sociedade.
E, segundo o exemplo usado, o pai está somente para vibrar a cada ‘punição’ que o filho recebe, mas não para alertá-lo de que em todos os lugares há regras que devem ser seguidas. É mais ou menos, como dizer: “Que beleza! Temos uma escola que ensinará, mesmo que a força, disciplina aos nossos filhos. Temos uma preocupação a menos”.
Isso me assusta.
Mas, como já disse, duvido muito que alguém tenha interpretado como eu. Sou um bicho raro.

4 comentários:

Bruno Ruchiga disse...

A tal educação que a escola deve dar, na minha opinião, é só a "intelectual", o estudo. Respeito e bons modos é algo que se aprende em casa e deve ser dever dos pais (até porque a criança passa anos dentro de casa antes de ir para uma escola). Depois dos primeiros anos (onde normas e bons modos estão previstos como conteúdo de sala), a escola não tem mais obrigação nenhuma de ensinar disciplina a crianças e jovens. Pode orientar, disciplinar, ajudar; mas é impossível que ela, sozinha, ensine coisas básicas como respeito e obediência às normas aos estudantes.

Lidi disse...

Que bom ver teu comentário, Bruno. Pois é justamente o que penso. É muito fácil, frente ao caos em que vivemos, escolher um Judas para pôr a culpa. O problema da indisciplina é, antes de tudo, um problema familiar. Logo, penso que se agressões (verbais ou físcas) e vandalismo acontecem nas escolas é justamente pelo fato da educação familiar ser falha. Acredito que a primeira preocupação da escola deva ser a de formação intelectual. Quanto à formação disciplinar, a instituição escolar deve, tão somente, ser um complemento, do trabalho dos pais, mas nunca substituta.

Bruno Ruchiga disse...

E, na verdade, eu acho que o grande "problema da educação" que tanto se fala não pode ser solucionado com mais escolas, como sempre se diz (políticos adoram, não?).

Sem a educação básica dos pais, não há como se aprender o que a escola tenta ensinar. A mentalidade acaba sendo negativa em relação ao ambiente escolar, e a família não valoriza nem incentiva muito o estudo.

O problema é que as pessoas não querem aprender, de fato. Os jovens deveriam ir atrás do conhecimento, mas ao invés disso ele correm dele. Só estudam porque são obrigados.

Saber o que é fotossíntese ou um verbo transitivo direto não são coisas fundamentais, e isso não faz tanta diferença na vida das pessoas. Mas respeito, bons modos e disciplina são coisas que realmente influenciam diretamente na vida de cada um.

Quanto a isso a escola pouco pode fazer. O que deveria (e poderia) mudar é a cultura de toda a população.

Enfim, acho que era isso.

Fernanda disse...

Pois é... confesso que já nas primeiras provas me espantei quando via os pais, dos meus agora colegas, dizendo que seria uma maravilha os filhos irem para o CTBM porque lá eles seriam obrigados a terem disciplina e como passariam o dia inteiro no colégio não teriam muito tempo para sair à noite, pois estariam cansados! O que eu acho um completa absurdo!
Eu fui para o colégio não por disciplina ou coisa do tipo, fui pelo ensino que se diz prezar a escola, tanto que por enquanto estou a um mês lá e ainda não foi chamada a minha atenção por qualquer coisa que seja, o que digamos que eu agradeço a educação que a mãe me deu.