segunda-feira, junho 29, 2009

Fala, Drummond

Há vezes em que postar aqui me toma um certo tempo. Nunca fui muito inspirada, mas escrever se tornou um ato necessário. E apesar de que há textos por aí escondidos em algum caderno, estes não seriam dignos de postagem por serem ruins ou por tratarem de coisas que só eu entenda e onde não fui competente o suficiente para me fazer entender.
Tentando manter as atividades blogueiras, virei a noite pensando no que escrever. Hora vai, hora vem e nada. E não sei porque cargas d'água me veio a mente esse poema do grande Drummond.
P.S.: Ao contrário do que alguns podem pensar, não tem nenhum vínculo a sentimento amoroso. hauahauahua
Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar
,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, junho 22, 2009

Ela chegou

Ele chegou, e com força. Se alguém pensou que o país tropical estaria imune ao novo monstro que assombra todo o mundo, enganou-se. Casos confirmados e suspeitas do Influenza A colocam em alerta a população e disseminam, antes de mais nada, o medo. Não costumo escrever sobre coisas assim, mas como o caso está tão próximo, entrou em pauta.
Na escola onde trabalho surgiu, na semana passada, uma suspeita de caso com a gripe A, em uma aluna que esteve em Buenos Aires no último feriado. Sabendo-se da gravidade da situação, as aulas foram suspensas até o dia do resultado dos devidos exames. Fato que gerou furor na cidade inteira, uma vez que, prudentemente, a direção do colégio levou a público a situação de forma a conscientizar a comunidade escolar e a população gabrielense sobre a ameaça do H1N1.
O que me surpreende e me choca é o fato de questionarem a atitude do colégio, qualificando a medida como extrema e desnecessária. Algumas pessoas na cidade criticaram a postura da escola, com o argumento de que isto geraria um pavor, ao mesmo tempo em que expõe os alunos a constrangimentos.
No Brasil existe uma política da camufla que poderia justificar a realidade brasileira em vários aspectos. Tudo aqui deve ser lindo, o dia sempre ensolarado, a crise financeira é só uma “marola”. Esconde-se a gravidade dos fatos, na tentativa de apresentar uma blindagem que não existe. Com a gripe A não é diferente. Comercias e panfletos no sentido de dizer que o Brasil está preparado para combater o vírus, pouco adiantarão se medidas mais drásticas não forem tomadas. Há que se trabalhar com a idéia de que o Influenza A já está entre nós e que, até então, é um inimigo invisível e pouco conhecido.
Duvido muito que os órgãos de saúde estejam realmente preparados. Se não adotarmos medidas de prevenção com urgência e continuarmos achando que isso somente ocorrerá em casos isolados, não vamos muito adiante. Informação, conscientização, prevenção e bom-senso é o que falta aos órgãos públicos e à população.

sábado, junho 13, 2009

Cantora 2

Algumas letras, melodias, gravações renderiam vários textos desde a minha ignorante, modesta e incansável posição de simples ouvinte. Pois nada mais sou senão uma simples apreciadora de música, esta arte que me transcende em tempo e espaço. E neste posto volto a falar sobre o projeto “Cantora” de Mercedes Sosa. Acabo de ouvir o Cantora 2 e, a exemplo do Cantora 1, que já me havia rendido um post, é imperdível.
Neste segundo projeto, estão nomes como: Fito Paez, Charly Garcia, Joaquin Sabina, Luis Salinas, Marcela Morelo, entre outros. Registra-se também a presença dos brasileiros Luis Carlos Borges e Daniela Mercury, esta cantando O que será. Agora realizem a cena: Mercedes Sosa e Daniela Mercury cantando Chico Buarque. Dispensa comentários.
Em tempos de “Borboletas”, “Pau de macarrão”, “Você não vale nada”, é uma dádiva conhecer a música de Mercedes e que ela nos presenteie com uma obra tão contundente e significante para o continente latino-americano.
Agora é torcer para que chegue logo ao Brasil!
P.S. É claro que prefiro o Cantora 1, afinal é lá que está a Sole, mas esta segunda parte está impecável.
Fica a dica.

domingo, junho 07, 2009

El Comodín

Personagem intrigante o curinga. Não o do Batman, até porque aquele é COringa, mas o do baralho mesmo. É só precisar de alguma carta que lá vem ele tapar qualquer buraco. Por vezes muito desejado, o curinga aparece como uma necessidade para se seguir adiante. Ao menos enquanto não encontramos a carta correta. Mas, e depois que encontramos, o que fazer com o curinga já não mais útil?
Devolve-lo ao baralho não é possível, o que torna inconveniente a sua presença. No jogo de cartas o ônus são alguns pontos perdidos, nada muito apavorante. O que me faz pensar é a presença do curinga na vida real.
Você já se deparou com uma pessoa curinga? Já usou uma pessoa curinga? Já foi um curinga? Penso que não será difícil identifica-lo. Em todos os lados existe um curinga. Aquele que é usado na falta de algo mais significante. Faltou um amigo próximo, descole um curinga e contente-se com ele até achar a carta verdadeira. Faltou um amor, ache um ou mais curingas e contente-se com eles até encontrar o que procurava. Faltou carinho por algum lado, use o curinga que, inexplicavelmente, está sempre disposto a ser útil, mesmo quando já não é tão necessário.
Pense bem. Você já foi alguma vez na vida um curinga. E se ainda não foi, espere que sua vez não tarda em chegar.
O problema é que o curinga nestes casos não representa só perda de pontos. Seria simples se fosse simples. O curinga real tem sentimentos e, contrário ao do baralho, pode até ser descartado. Mas antes deixará um rastro de mal entendidos, perguntas sem respostas, histórias mal construídas e mal acabadas. Pois, para um curinga, todas as cartas são verdadeiras. Todas são necessárias a sua existência o que já não acontece quando se vê o jogo da vida pelo ângulo de quem usa o curinga.
É, eu sei, não é fácil ser o curinga. Falo com conhecimento de causa. Tenho vocação para ser curinga. Faltou alguma coisa, me chame, que sem maiores explicações estarei para ajudar, para suprir alguma falta. Tenho um tipo de imã com pessoas que precisam de algo que não é necessariamente eu, mas que se contentam por certo tempo com minha presença. Resignei-me por enquanto. Sou um curinga simpático. Espero, curingando aqui e ali, a oportunidade de ser a carta verdadeira. A carta necessária, a carta insubstituível.

segunda-feira, junho 01, 2009

Se chorei ou se sorri...

Acreditem ou não, o improvável e o imprevisto podem muitas vezes te consolar em algumas situações. Ganhei de presente da minha tia o livro “Nunca desista de seus sonhos” do Augusto Cury. Sempre resisti aos livros do Cury por nenhuma outra razão senão o preconceito. Mas como ganhei estou me obrigando a ler.
E pensando no que senti esse fim de semana, me são bem consoladoras as sucessivas derrotas dos personagens presentes no na obra.
Me explico.
Foi sexta-feira à noite, 29 de maio, show da Soledad em Porto Alegre. Até aí normal. Lugar certo para me encontrar: Restaurante do Estádio Beira-rio, reboleando o poncho com o Furacão de Arequito. Certo? Errado.
Soledad na capital do meu Estado, ali a menos de 350 km A mesma cantora a quem dediquei e dedico vários posts neste pequenino sitio. A mesma que fiz conhecer entre meus amigos, alunos, família. Sim, a mesma que fez um show fechado para um seleto grupo de criadores de gado.
Confesso que não sei muito o que pensar. Óbvio que os organizadores do evento despertaram em mim “os instintos mais primitivos”, como diria Roberto Jefferson. Ainda mais com o discurso no mínimo ridículo do anfitrião da festa antes de apresentar a Sole; ou quando a rotularam de cantora country. (Sim, isso aconteceu). Mas também me veio um sentimento, bem infantil, diga-se de passagem, de desgosto em relação a Sole. Não sei explicar muito bem, mas me veio a sensação de algo inalcançável. Como se me desse a impressão de alguém que ignora totalmente o quanto é admirada por estes lados.
Contudo, sei que o problema é meu. Que seria bem mais fácil dedicar meus ouvidos e meu tempo a qualquer duplinha sertaneja que, vira e mexe, está fazendo show por aqui. Mas como jamais farei isso, sigo com minha loucura de seguir e admirar, ainda que tente o contrário, Soledad Pastorutti.
No livro do Cury os personagens são derrotados inúmeras vezes, mas alcançam o que almejam. Espero pelo mesmo. Até porque sou brasileira e “não desisto nunca” hahahaha

P.S: Nada a ver com o assunto, mas viram que legal o especial “Elas cantam Roberto Carlos” que passou na Globo? Bah, gostei. Não sou muito do Roberto cantando, mas as suas letras são MARA. E com as vozes das nossas cantoras que... vamos combinar, estão entre as melhores do mundo. Por que eu fui encasquetar justo com a Pastorutti????? Buáááááá

"Mas acontece que eu Não sei viver sem você Às vezes me desabafo Me desespero, porque?... Você é mais que um problema É uma loucura qualquer"

(Desabafo - Roberto Carlos)