sábado, junho 16, 2007

SAUDADES DA FAZENDA...

("De nuevo estoy de vuelta/ Después de larga ausencia..." Atualizando, depois de tanto tempo.)
Senti necessidade de escrever. Uma mistura de melancolia e nostalgia me invade trazendo vontade de chorar, de escrever frases soltas, de brincar com o passado e me expor de alguma forma. Não sinto tristeza porque não sinto dor. Sinto algo parecido com um vazio, como se alguma coisa fizesse falta. Essa falta me toma de um modo estranho. Não a posso explicar. Não sei se é de algo que já passou ou do que nem foi. Na verdade, creio ser uma mescla dos dois tempos. Hoje me bateu uma saudade imensa da minha infância. A culpa disso? Uma música do Milton Nascimento: Fazenda. O resultado disso? Este texto sem parágrafos, exprimindo uma idéia única sobre o que nem eu sei. Não cresci em uma fazenda, mas lembranças da minha "niñez" vieram de pronto ao ouvir a letra da canção. Coisas que vivem somente na memória de quem as teve. Me deu uma saudade tão grande dos meus primos, do tempo em que brincávamos no verão. Me deu saudade dos meus tios reunidos na casa da minha avó, que é outra grande saudade que tenho. Me deu saudade dos meus amigos e colegas de escola, do tempo em que eu ia a aula sem saber "porque", só sabia que lá iria encontrar pessoas que, naquele momento, representavam o que chamo de círculo social. Me deu saudade das conversas sobre um mundo tão simples, que hoje me agradaria muito (re) encontrar. Me deu saudade da gana por descobrir algo novo, da pré-disposição de sair correndo por brincadeira. Me deu saudade da facilidade de esquecer, da normalidade de acordar todos os dias e estar disposta a me divertir. Me deu saudade de como certas pessoas me pareciam na época. Me deu saudade de quando meu único problema era uma nota baixa em matemática. Me deu saudade do tempo em que me diziam para aproveitar a meninice. Me deu saudade de comer bergamota no pé, de pular sapata, de tomar banho de chuva, de ter a casa cheia de crianças em dia de aniversário. Me deu saudade do tempo em que eu acreditava no país, em que acreditava que um Brasil melhor era o sonho de todos os brasileiros. Me deu saudade de quando eu planejava o futuro e não me via apenas como uma conseqüência do presente. Me deu saudade da inocência e da ingenuidade. Me deu saudade de quando eu não sabia o significado das palavras ilusão, traição, decepção. Sinto falta da época em que tinha tempo livre para tudo, menos para me deparar com sentimentos como melancolia e nostalgia.
Lidiane Raymundo Silveira – 15/06/2007
FAZENDA Milton Nascimento
Água de beber
Bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer
Era tão normal que o tempo parava
E a meninada respirava o vento
Até vir a noite e os velhos falavam coisas dessa vida
Eu era criança, hoje é você, e no amanhã, nós
Água de beber
Bica no quintal, sede de viver tudo
E o esquecerEra tão normal que o tempo parava
Tinha sabiá, tinha laranjeira, tinha manga rosa
Tinha o sol da manhã
E na despedida, tios na varanda, jipe na estrada
E o coração lá.