Difícil descrever o que passa pela cabeça de alguém que, se supõe, tenha toda uma vida para estar, milhões de coisas para conquistar, outras tantas para perder, e ao final de tudo ter apenas histórias a contar. É extremamente complicado tomar decisões, fazer-se perceber, buscar horizontes. Porém, o mais difícil é acostumar-se as coisas como elas acontecem. É deprimente e revoltante aceitar e se adaptar a um mundo tão errado, injusto e que pouco tem a te oferecer.
Mais triste é quando descobrimos que nossos heróis não são tão perfeitos e nem tão bonzinhos como pensávamos, ou quando descobrimos que não conhecemos nem um terço de quem nos rodeia, isso é descobrir que não se sabe nada sobre a vida. Se esquece de quando ela começa, mas o fim se torna mais próximo, pois já não existe mais fantasia, nem beleza, nem portas, nem porto.
Por um momento até busca-se algum cais, mas esta segurança dependerá de outros portos que almejam também segurança e que você não pode dar. E, então, chegamos ao grande equívoco do ser humano: cobrar de outrem o que não se é capaz de dar a si mesmo.
Depois de tudo, o que resta é só cansaço. O cansaço que toma todas as forças, que te impede de pensar e te faz esquecer de todo o indispensável que te rodeia. A vontade de sair gritando aos ventos que você existe e que também fica agressivo, fraco, inconveniente, sufocado, encomodado, atordoado, e todas essas formas de infelicidade. Não a infelicidade eterna, mas a momentânea que te faz sentir um inútil, ridículo incapaz de sair do seu próprio clausuro e que te mostra o quão dependente és.
Não me coube saber se isso é apenas cansaço, ou acúmulo de coisas entaladas na garganta à espera de um pequeno estímulo para explodir. Mas, já sei o remédio, uma boa noite de sono e tudo tomará o seu lugar, mesmo não sendo o lugar que me agradaria guardar todo esse ‘feeling’. Hoje foi apenas mais um dia, ou menos um e esta é a grande ambigüidade dos tempos, perde-se muito com tristezas inúteis e ganha-se pouco com a conformidade. Enfim, não sei o que isso pode modificar este momento, mas é, de certa maneira, uma forma de liberdade, em que espero ao menos encontrar uma brecha por onde o ar passe.