quarta-feira, novembro 29, 2006

Rebelde

Hoje não é um dia dos melhores. Tem momentos que me cansam, pessoas que parecem que estão na minha vida só para me irritar. O pior é que elas não surgiram, já estavam aqui quando eu cheguei. Talvez tenhamos muito o que aprender juntos. De certa forma estes desconfortos estão sendo construtivos para mim, só espero que não sejam em vão. Juana de Ibarbourou "Rebelde" (Trad. de Rosália Sandoval) Caronte, quando eu for em teu barco sombrio, que escândalo eu farei nessa triste romagem! Temerosas, talvez, do teu olhar tão frio, outras sombras irão a rezar, como a aragem. Mas eu irei cantando, alegre pelo rio e em teu barco porei meu perfume selvagem. A brilhar me verás nesse arroio sombrio, como lanterna azul que ilumina a viagem. Por mais que faças tu, por mais gestos de horror desses dois olhos teus tão destros no terror, Caronte, em tua barca, eu serei um escândalo. E, já farta de sombra e cansada de frio, quando fores deixar-me à outra margem do rio, tu me farás descer, qual conquista de vândalo.

domingo, novembro 26, 2006

Que se faça justiça cultural!!!

A cultura é por excelência a íris de um povo. É o que há de mais puro, único e singular na identidade de pessoas que cultivam e orgulham-se de sua história, de seus antepassados. Interessante, é ver como a cultura vem sendo tratada e reconhecida por aqueles que deveriam zelar pela conservação e propagação da mesma. Outro dia, estava eu em uma escola desenvolvendo um trabalho com algumas crianças, e a conversa era sobre música. Papo vai, papo vem, as crianças foram me dizendo de que estilos gostavam e, quando fui expor o meu gosto levei um susto: nenhum dos pequenos sequer sabiam do que eu estava falando. O que tentei mostrar-lhes não era nada de muito diferente, nada de muito longe, ao contrário, eram ritmos que ao meu ver (até então) eram o que de mais próximo poderia haver: vaneiras, xotes, milongas, chamamés. Me surpreendi, ou melhor, me choquei, estou até agora extasiada a procurar os motivos que ocasionaram este absurdo. Em verdade, não foi tão difícil encontrar as causas do desconhecimento da cultura gaúcha por parte daqueles que serão o futuro do nosso estado. Alguns dias "pós-choque", aconteceu na minha cidade, São Gabriel – RS, a tão famosa e aclamada Estância da Canção Gaúcha. Um belo espetáculo, deve-se reconhecer, com belas canções, ótimos intérpretes, enfim, quase todos os ingredientes necessários para uma festa brilhante. Digo quase todos porque, ao meu ver, faltou o essencial: propósito. Faltou o mais importante em um evento como tal: divulgação da cultura gaúcha. Ou melhor, a divulgação até foi feita, a questão é "para quem?". Para a imprensa? Para mostrar a outras cidades, seleiros de festivais, que aqui também "se faz"? Mas, e para a população gabrielense? E, para essa gurizada que desconhece a cultura do seu chão não por descaso, mas por falta de informação? É para eles que os "Bam, bam, bam’s" da Princesa das Coxilhas deveriam se voltar. Fatores como o preço e a distância deram um tom elitizado ao evento, mas não ofuscaram tanto a festa como os discursos das autoridades presentes. Pronunciamentos hipócritas que demonstraram um profundo desconhecimento histórico e cultural nos argumentos dos anfitriões da festa. Só para citar, em determinado momento foi comentado por um destes senhores, "da distância não se podia reclamar, porque o gaúcho verdadeiro percorria imensidões sem fim". No entanto, esqueceram de avisá-lo que além de percorrer inúmeras distâncias, o gaúcho costumava parar onde o povo se encontrava. Com isso, só me resta torcer para que em tempos tão desiguais, ao menos no que diz respeito a nossa cultura, sejamos irmãos e que desfrutemos de iguais oportunidades de cultivo. Que seja oferecida à grande população gabrielense a chance da escolha, e não somente as imposições e o distanciamento realizado por uma classe econômica mais favorecida.

"Ay, ay, ay vi’a di’r parando Soy un criollo nada más No vengo a buscar tu aplauso Sólo quiero tu hermandad" (Orlando Veracruz)

Lidiane Raymundo Silveira São Gabriel – RS, novembro de 2006.