sexta-feira, outubro 24, 2008

A Alegria na Tristeza

O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.
O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.
Martha Medeiros
Alegría de la tristeza
En las viejas telarañas de la tristeza
suelen caer las moscas de sartre
pero nunca las avispas de aristófanes
uno puede entristecerse
por muchas razones y sinrazones
y la mayoría de las veces sin motivo aparente
sólo porque el corazón se achica un poco
no por cobardía sino por piedad
la tristeza puede hacerse presente
con palabras claves o silencios porfiados
de todas maneras va a llegar
y hay que aprontarse a recibirla
la tristeza sobreviene a veces
ante el hambre millonaria del mundo
o frente al pozo de alma de los desalmados
el dolor por el dolor ajeno
es una constancia de estar vivo
después de todo / pese a todo
hay una alegría extraña / desbloqueada
en saber que aún podemos estar tristes.
Mario Benedetti

quarta-feira, outubro 22, 2008

Ando meio desligada...

Chove em São Gabriel. Sopra forte o vento que chega a fazer barulho. Coisas estranhas acontecem... comigo. Óbvio que tudo anda normal. Alguém já ouviu falar do mundo ter parado alguma vez porque alguém se sente estranho? Claro que não. Mas, ainda que o mundo me rejeite, não posso negar, me sinto estranha.
Tenho insônia durante a noite, me arrasto durante o dia. Hoje tive a impressão que era guiada pelo vento, que minha razão andava adormecida e me deixava vagar pra onde soprasse a brisa. Desligada, talvez seja essa a palavra, ando um pouco desligada, em OFF. Ontem não consegui completar quase nada das palavras-cruzadas da Zero-Hora. Sim, estou em OFF.
Em um dos poucos momentos que mudo pra ON, me divirto com o livro da Martha Medeiros que a Tia Rosângela me deu (que transmissão de pensamento, acertou em cheio, tia). Leve, simples, crônicas que contam histórias vividas por qualquer um que venha a ler.
Em ON também, escrevo emails quilométricos ao meu amigo Fábio de Poa, que sempre tem uma palavra legal e um tema melhor ainda a ser tratado: folklore. Apesar de ser gremista, é uma pessoa maravilhosa, eu até acho que quando ele fala comigo tenta esconder um pouco o orgulho tricolor. haha
Em ON, programo a janta de despedida da Jacinta, minha amigona que vai embora.
Em ON, durmo. Sonho um pouco e talvez seja onde me ache mais coerente.
Em OFF, escrevo no blog, ops, aqui. Em OFF, odeio quem inventou o horário de verão e tudo o que ele altera na minha "biologia-psicológica" (hein?!). Em OFF, tento entender o tal do Facebook, me torno fã de um monte de coisas e nem sei por quê. Ah, claro, estou em OFF...
"Ando meio desligado, eu nem sinto meus pés no chão..."

"... eu quase posso palpar, a minha vida que grita, emprenha e se reproduz, na velocidade da luz. A cor do céu me compõe, o mar azul me dissolve, a equação me propõe, computador me resolve..."

Vixe!

domingo, outubro 19, 2008

Um simples Oi

Ontem, ocasionalmente, peguei uma parte do programa da Xuxa em que ela falava sobre a simplicidade e os pequenos gestos diários que muito contam para o nosso bem estar. E não é só porque a Xuxa falou que me deu vontade escrever sobre isso, mas sim, porque é um tema que já vem me roubando o pensar há algum tempo.
Principalmente nestes últimos tempos.
Não sei o porquê, mas um bom dia com um sorriso que recebo faz toda a diferença no resto do meu dia. E isso não importa se vem de um conhecido ou de alguém que passa na rua e que você não faz a mínima idéia de quem seja. Gestos como "Bom dia", "Como está?", "Que jóia te ver outra vez", "Que bom que você está aqui", "Obrigada", "Que tenha um bom dia, uma boa semana" me revigoram. Me sinto tão bem quando recebo palavras assim e tão mal quando elas faltam que reafirmo a minha idéia de que a felicidade, ainda que momentânea, está nas pequenas coisas, está na simplicidade.
Geralmente, e isso é um hábito muito feio, tenho um baita mau humor pela manhã. E, ainda que me faça de durona e ranzinza, ele acaba na hora em que minha avó me deseja "bom trabalho, vai com Deus". Todos os dias ela faz isso, pra minha sorte. Um gesto simples que é capaz de mudar o meu humor e, seguramente, pra ela não custa nada mas pra mim contribui muiiito.
Esses simples gestos não precisam ser executados só por quem está perto. Um telefonema dizendo "Poxa, não conseguimos nos falar essa semana, estava com saudade..."; um email perguntando "como está você...", uma chamada no msn, um recado no orkut, podem mudar o dia de várias pessoas.
Ao menos a minha vida muda, podem ter certeza.
Uma ótima semana a todos!!!
*A minha espero que seja um pouquinho melhor. Depois de dor de garganta, tosse, ameaça de conjutivite, TPM, crise 'estomacal'... tô precisando de bons desejos pra essa semana. haha
Beijos!

quarta-feira, outubro 15, 2008

Dia do professor

Meu primeiro ano, literalmente, como professora.
Família, obrigada pela lembrança e pela força!
Tia Túlia, obrigada pela linda rosa!
Pai, obrigada pelos conselhos.
Aos professores que tive, o meu carinho. São inesquecíveis.
Aos meus amigos profes, um beijo enorme!
*Fui... que tenho que trabalhar...

terça-feira, outubro 14, 2008

Riqueza

RIQUEZA
Tengo la dicha fiel
y la dicha perdida:
la una como rosa,
la otra como espina.
De lo que me robaron
no fuí desposeída:
tengo la dicha fiel
y la dicha perdida,
y estoy rica de púrpura
y de melancolía.
!Ay, qué amada es la rosa
y que amante la espina!
Como el doble contorno de las frutas mellizaz,
tengo la dicha fiel y
la dicha perdida...
Gabriela Mistral

domingo, outubro 12, 2008

12 de outubro

  • Dia da criança;
  • Dia da Padroeira do Brasil;
  • Día de la Raza; e
  • Aniversário da Sole.

Caramba, tanta coisa num dia só. Bah!

1) Ao dia da criança:

Felicito a todos aqueles que guardam uma criança dentro de si. Para aqueles que são simples, que vibram com a simplicidade, que trazem alegria, sabedoria, sinceridade e desprendimento.

Com os meus amigos quero manter uma relação madura, mas que viva da juventude e tome exemplo nessas "gentes miúdas" que costumam ser grandes amigos.

2) Ao Dia de Nossa Senhora Aparecida

Não sou muito religiosa, aliás da igreja católica já venho me afastando faz algum tempo. Mas tenho que reconhecer que a fé e a devoção que os brasileiros têm a essa simpática santinha são lindas. Confesso também que tenho um folhetinho dela na minha carteira. hahahauahauh

3) Día de la Raza:

Chegada de Colombo à América. Data muito pouco lembrada no país, mas comemorada, ou protestada na hispano-america. Entre protestos e celebrações, prefiro ficar com as palavras de uma amiga: "si no fuera cómo fue, estaríamos en las plumas". Adorei. hahah

4) Aniversário de Sole:

Tá, é puro fanatismo mesmo escrever algo sobre isso. Ainda mais porque ela nunca vai ler. Mas já que sou uma fanática, tiete, xiita (como diria a Gabi) assumida, não poderia deixar de escrever algo.

Sole, feliz cumple, que disfrutes el doblo de la felicidad que proporciona a nosotros. Gracias por la buena música, la alegría, las amistades, por y por...

*Si alguien lee esto y tiene contacto con ella, decile de mis votos de felicidad y que la quiero mucho, please! jajaj

Um beijão a todos e Feliz Dia da Criança!!!

"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo

E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva

E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva...

Se um pinguinho de tinta cair num pedacinho azul do papel

Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu..."

Bah, hoje é o aniversário da Tia Rose também. Minha tia-madrinha, parabéns!!!!! Lhe adoro muito. Essa é a nossa foto em São José do Norte, verão de 2007. É do meu celular mas ficou bonitinha.

Um beijão!!!

terça-feira, outubro 07, 2008

Infinito Particular

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown

domingo, outubro 05, 2008

Remoto Controle

"Eu ando pelo mundo prestando atenção..."
Tenho razões suficientes para acreditar que a vida é um drama. Mas um drama daqueles bons de ver, que mesclados com comédia te levam a incerteza de rir ou chorar. Em que suas lágrimas se misturam a um riso frouxo e longo.
Não é à toa que sinta a vida assim, talvez este seja um dos motivos pelos quais escreva. Escreva coisas sem muito fundamento, mas que me permitam exibir um pouco do que guardo.
Ao menos, nesse momento, é mais ou menos assim que me sinto.
Se dissesse que vivo um momento de infelicidade estaria mentindo, se dissesse que vivo um momento de felicidade também. Minha vida, nos últimos tempos, se resume a aproveitar os momentos felizes e infelizes. Literalmente aproveitar.
Tentar retirar da solidão, da correria, da impaciência, do cansaço sua melhor lição: a do exercício de manter a esperança de que tudo um dia valerá a pena.
Tentar desfrutar o máximo de cada momento com família, amigos, pessoas, poesias, mate no sol, brincadeiras... principalmente porque sei que são o que me dá forças pra prosseguir. São os responsáveis pelo riso presente no drama que escrevo a cada dia.

Adriana Calcanhoto - Esquadros

Esquadros
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo. Cores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço.
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

sábado, outubro 04, 2008

Maré

Sem muitas palavras.
Basta dizer que é Adriana Calcanhotto, aquela voz sempre agradável, as letras que ficam pulsando na mente. Imperdível. "Ouve aquela canção que não toca no rádio..."

quinta-feira, outubro 02, 2008

El hijo y los novios

Por força da profissão, tive de assistir outra vez “El hijo de la novia”. Um presentão. Já o havia visto por volta de 2003, 2004 e confesso que dessa vez foi muito diferente. Foi mágico, como se entendesse cada olhar, cada frase, cada pausa. Não que da outra vez não fosse bom, é claro que foi, senão não voltaria a ver, mas agora parece que tinha outro gosto, me fez chorar, o que eu odeio porque não consigo parar depois. Segundo Aristóteles, purificou meus sentimentos. Também me fez rir, o que está ótimo. O principal é que me fez pensar em “irme a la mierda”. hahah
70 balcones y ninguna flor
Setenta balcones hay en esta casa,
Setenta balcones y ninguna flor…
A sus habitantes señor, ¿qué les pasa?
¿Odian el perfume, odian el color?
La piedra desnuda de tristeza agobia,
Dan una tristeza, los negros balcones…
¿No hay en esta casa una niña novia?
¿No hay algún poeta lleno de ilusiones?
¿Ninguno desea ver tras los cristales
Una diminuta copia del jardín,
En la piedra blanca trepar los rosales,
En los hierros negros abrirse un jazmín?
Si no aman las plantas, no amarán el ave
No sabrán, de música, de rimas, de amor
Nunca se oirá un beso, jamás se oirá un clave…
Setenta balcones y ninguna flor…
Baldomero Fernández Moreno