sábado, outubro 23, 2010

Sole, Luna e Bofill

Uma das coisas mais legais que vivi há duas semanas atrás foi a oportunidade de ver em um mesmo palco três figuraças do folklore argentino em uma conversa pra lá de descontraída e interessantíssima. Se me lês com frequencia, saberás por onde andei. E este texto já era promessa em outro post sobre essa viagem inesquecível.
Pois bem, na tarde de 10/10/10, por volta das cinco horas, Sole Pastorutti convidou Argentino Luna e Mario Bofill para uma conversa sobre folklore e cultura em geral, realizada numa tenda armada no meio do Ferroclub em Arequito. Entre rimas de milongas e chamamés, os mestres foram alternando opiniões sobre a cultura própria de cada país, cada região, sobre aquilo que deve ser de domínio popular, e de conhecimento de todos. Não foram (e jamais poderiam ser) esquecidos os nomes como Atahualpa Yupanqui, Alfredo Zitarroza e Violeta Parra, citados a um público que registrava a presença de argentinos, uruguaios, chilenos, colombianos e brasileiros (eu e minha irmã).
Várias coisas me chamaram a atenção, principalmente nas falas de Argentino Luna que ressaltou a importância de se conhecer aquilo que é autóctone, que é de raíz, que é de direito comum a todos que nascem em um determinado lugar. Defendeu a idéia de que não há nada de mal em apreciar a música e a cultura de outro país, neste sentido as fronteiras não podem existir. Mas antes é preciso tomar conhecimento, se ter um olhar crítico sobre aquilo que é "da terra", e que essa cultura ainda que seja própria de algum lugar não pode jamais deixar de ser universal.
Escutei tudo bem atenta e a cada palavra pensava: "quanta gente do Rio Grande do Sul deveria estar aqui escutando isso". Na minha humilde opinião, principalmente quanto à música, a cultura "daqui", o dito tradicionalismo ou nativismo, já deixou há muito tempo de ser universal. Melhor dizendo, muitos dos nascidos no Rio Grande do Sul não fazem idéia do que vem a ser realmente uma milonga ou um chamamé. E isso por quê? Porque é muito mais fácil ter contato com o pagode ou o sertanejo da esquina, do que com a música que dizem ser própria do RS. Isso para não dizer que a maioria não consegue nem entender as letras do novo nativismo.
Não falo em vão. Semana passada, fui a um festival de música aqui em São Gabriel e me detive às letras das canções. A maioria funciona como um retrato de uma paisagem bucólica, uma descrição e só. Poucas são as que narram alguma história e em menor número ainda as que têm um sentido universal. Se tu não vives no meio do campo, nas estâncias, é praticamente impossível pôr algum sentido a essas músicas. Sinceramente, a mim elas não representam. Talvez já tenhamos sido universais, na época de Cesar Passarinho e Noel Guarany, mas agora, está bem difícil.
Só para registrar, para entrar no Festival tive que pagar. Na mesma noite, para assistir a um "show" de um cantor que subiu ao palco já cambaleante pela bebida e que foi abandonado por seus "amigos" convidados, tive que pagar também. Na hermosa tarde do 10/10/10, Soledad Pastorutti, Argentino Luna e Mario Bofill me encheram a alma de conhecimento e alegria totalmente de graça, no esquema "quanto mais, melhor". É ou não é de se pensar?
A conversa com os três é um projeto da Fundação Soledad Pastorutti que quer levar atividades assim aos jovens argentinos. Algo parecido com o que DEVERIAM fazer os CTGs aqui, além de se preocupar em ganhar concursos.

Nenhum comentário: