domingo, novembro 09, 2008

Tem gente que me faz rir

Há uma canção do Frejat, relembrando o texto de Vitor Hugo, que diz que “rir de tudo é desespero”. Sempre entendi bem o que quer dizer essa frase, uma vez que meu riso sempre foi fácil. Qualquer palhaçada, qualquer palavra mal dita, qualquer erro, qualquer olhar sempre me fizeram rir. O desespero transfigurado em riso talvez se justifique pela falta de algo. No meu caso, tenho certeza, pela ausência de atitude verbal. Há certos momentos em que coisas me incomodam e sou incapaz de dirigir qualquer palavra referente a este incômodo. É como se me acometesse um impulso de expressão carente de palavras, que se transfigura em riso. Muitos desses impulsos deveriam transfigurar-se em choro, não fosse minha resistência ao ato de chorar. Porém, quando as palavras me surgem, sou impulsionada a analisa-las. Não há como explicar, é mais forte do que eu. Como nesse momento, por exemplo. Me deparo com situações e atitudes em que não me surge outra expressão senão a famosa frase “tem gente que me faz rir”. Mas me faz rir no sentido irônico. Tem gente que te tira para bobo. Tem gente que te ignora, te trata com indiferença. Tem gente que pensa que te passa pra trás. Acredite ou não, tem gente que te mente. Tem gente que não merece o tempo que lhe é dedicado. Tem gente que te irrita. Toda essa gente é gente que me faz rir. E me faz rir, principalmente, porque não faz a menor idéia do quanto pode me irritar. Não faz a menor idéia, ou é indiferente, ao turbilhão de sentimentos que pode me despertar transfigurados em um simples riso. Seguramente, esse riso está vinculado a mim mesma. Meu riso é uma maneira de rir de mim. Rir das vezes que me deixei passar pra trás. Rir das vezes que esperei o que não devia. Rir das vezes que dediquei tempo, conversa, a quem não devia. Rir das vezes que me deixei irritar. Sofro quando digo que “tem gente que me faz rir”. Seria mais fácil ser indiferente.

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