quarta-feira, março 18, 2009

Mania de perseguição

"Tenho uma amiga que, como boa taurina, é desconfiada à beça. Não importa a sua inteligência, vivência, maturidade - tem uma hora que ela encasqueta que estão lhe puxando o tapete. "Vivian (*) isso é paranóia", digo a ela. "Pode até ser, mas aí tem", ela responde.

Se alguém não telefonou como prometido, ela nunca cogita que foi um esquecimento. É porque, provavelmente, a pessoa está desapontada com ela, ou querendo evitar de lhe contar algo importante.

Se ela foi a única a não receber o email de alguém da nossa turma, pronto: foi excluída. A remetente explica: "Jurava que você estava viajando, foi só isso". Vivian sorri e finge que perdoa, mas por dentro: "Achou que eu estava viajando, sei". (...)

(...) Casualidade, fatalidade, coincidência, nada disso faz parte do vocabulário dela. O acaso, em sua vida, não existe. Tudo tem uma explicação, e a explicação é que as pessoas estão aprontando com ela, ou fugindo dela, ou deixando de confiar nela, ou provocando-a. (...)

(....) minha amiga é extremamente competente e gentil, e ai de quem não for, no mínimo, igual ou melhor do que ela. Como a maioria das pessoas são normais, ou seja, são lentas, desligadas, apressadas, desatentas, Vivian se exaspera. É uma obsessiva pela perfeição (...)".

* Esses são trechos da crônica Mania de perseguição, de Martha Medeiros, presente no livro Doidas e Santas que estou lendo. Me surpreendi com a minha presença no texto. Afinal, uma taurina com mania de perseguição, só pode ser eu. Mas, claro, como não me chamo Vivian e também não sou amiga da Martha, fui tão somente representada na crônica.
O que acontece, é que é a mais pura verdade. Admito. Sofro de mania de perseguição. Não suporto me sentir esquecida, deixada de lado, olvidada. Ainda que não seja isso tudo, é como me sinto quando me deixam esperando, quando não me ligam, não me escrevem, quando trocam meu nome, e em tantas outras situações.

Até então não havia me dado conta disso. Talvez as pessoas que vivem comigo sim, mas nunca me falaram nada. Martha que nem me conhece teve a coragem de me dizer, que não sou tão importante assim para que me esqueçam ou me deixem de lado. A maioria é indiferente a mim.

Tudo bem que adorei quando ela diz que sou competente e gentil. Vou gravar essas palavras. Mas daí a deixar de ser perseguida, são outros quinhentos.

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