domingo, novembro 26, 2006

Que se faça justiça cultural!!!

A cultura é por excelência a íris de um povo. É o que há de mais puro, único e singular na identidade de pessoas que cultivam e orgulham-se de sua história, de seus antepassados. Interessante, é ver como a cultura vem sendo tratada e reconhecida por aqueles que deveriam zelar pela conservação e propagação da mesma. Outro dia, estava eu em uma escola desenvolvendo um trabalho com algumas crianças, e a conversa era sobre música. Papo vai, papo vem, as crianças foram me dizendo de que estilos gostavam e, quando fui expor o meu gosto levei um susto: nenhum dos pequenos sequer sabiam do que eu estava falando. O que tentei mostrar-lhes não era nada de muito diferente, nada de muito longe, ao contrário, eram ritmos que ao meu ver (até então) eram o que de mais próximo poderia haver: vaneiras, xotes, milongas, chamamés. Me surpreendi, ou melhor, me choquei, estou até agora extasiada a procurar os motivos que ocasionaram este absurdo. Em verdade, não foi tão difícil encontrar as causas do desconhecimento da cultura gaúcha por parte daqueles que serão o futuro do nosso estado. Alguns dias "pós-choque", aconteceu na minha cidade, São Gabriel – RS, a tão famosa e aclamada Estância da Canção Gaúcha. Um belo espetáculo, deve-se reconhecer, com belas canções, ótimos intérpretes, enfim, quase todos os ingredientes necessários para uma festa brilhante. Digo quase todos porque, ao meu ver, faltou o essencial: propósito. Faltou o mais importante em um evento como tal: divulgação da cultura gaúcha. Ou melhor, a divulgação até foi feita, a questão é "para quem?". Para a imprensa? Para mostrar a outras cidades, seleiros de festivais, que aqui também "se faz"? Mas, e para a população gabrielense? E, para essa gurizada que desconhece a cultura do seu chão não por descaso, mas por falta de informação? É para eles que os "Bam, bam, bam’s" da Princesa das Coxilhas deveriam se voltar. Fatores como o preço e a distância deram um tom elitizado ao evento, mas não ofuscaram tanto a festa como os discursos das autoridades presentes. Pronunciamentos hipócritas que demonstraram um profundo desconhecimento histórico e cultural nos argumentos dos anfitriões da festa. Só para citar, em determinado momento foi comentado por um destes senhores, "da distância não se podia reclamar, porque o gaúcho verdadeiro percorria imensidões sem fim". No entanto, esqueceram de avisá-lo que além de percorrer inúmeras distâncias, o gaúcho costumava parar onde o povo se encontrava. Com isso, só me resta torcer para que em tempos tão desiguais, ao menos no que diz respeito a nossa cultura, sejamos irmãos e que desfrutemos de iguais oportunidades de cultivo. Que seja oferecida à grande população gabrielense a chance da escolha, e não somente as imposições e o distanciamento realizado por uma classe econômica mais favorecida.

"Ay, ay, ay vi’a di’r parando Soy un criollo nada más No vengo a buscar tu aplauso Sólo quiero tu hermandad" (Orlando Veracruz)

Lidiane Raymundo Silveira São Gabriel – RS, novembro de 2006.

2 comentários:

Pr. Cláudio Moreira disse...

O teu texto é de 2006, mas se fosse escrito em 2007, seria praticamente igual. Por que não republicas? heheheh

Unknown disse...

Dáne!!!
Vamos dar uma injeção de "Folklore" neles... hahahahahaha...
Assim saberam a qualidade da música gaúcha... hehehehehe...
E as autoridades... passam só adubando a vida... huahuahuahuahu