
Pois é, e hoje completo os 24 outonos. É meio complicado falar desse momento. Poderia encher linhas e linhas falando das maravilhas que a vida me proporcionou até aqui ou das vezes que chorei ou fiquei realmente chateada por algumas coisas. Aquele balanço típico de Ano Novo ou Dia de Aniversário.
Contudo, usando o verso do meu amigo e confidente Jorgito estou na “edad aquella en que la certeza caduca”, ou seja, minha cabeça é cada vez mais povoada por um mutirão de dúvidas, pensamentos vãos e observações sobre tudo. E aí está a justificativa da música que me dediquei esse ano: “Esquadros”, de Adriana Calcanhotto (que, diga-se de passagem, é a minha canção favorita cantada por ela).
Ando observando, prestando atenção nas coisas do mundo, vivendo num ritmo acelerado e vendo tudo passar por meio de um remoto controle.
Entenderam?
Completamente, nem eu.
Falei que estava na idade em que a certeza caduca.
Que yo los cumpla muy feliz.
Esquadros
Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar,
Cores de Frida Kahlo, cores.
Passeio pelo escuro,
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora.
Ah, eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa,
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo divertindo gente,
Chorando ao telefone.
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome.
Pela janela do carro,
Pela tela, pela janela.
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle.
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos.
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço.
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado.